O revés das dietas sem glúten

Cortar a proteína de pães e massas virou tendência no mundo todo. Mas novos estudos mostram que essa moda pode cobrar seu preço lá na frente

O remédio cerivastatina foi uma das medicações mais prescritas pelos cardiologistas no final dos anos 1990. Seu poder de baixar o colesterol e prevenir problemas cardíacos era indiscutível. Até que surgiram relatos de pessoas que tomaram esse tipo de estatina e tiveram rabdomiólise, uma destruição gravíssima dos músculos. Em pouco tempo, o comprimido foi banido do mercado e não se falou mais nele. Guardadas as devidas proporções, fenômeno similar começa a acontecer com a dieta sem glúten.

Após celebridades anunciarem que parar de ingerir a proteína do trigo, da cevada e do centeio era a fórmula certeira para emagrecer, o assunto ganhou as ruas e as redes sociais – o número de adeptos do regime glúten-free triplicou de 2009 para cá, de acordo com uma pesquisa da Escola Médica Rutgers New Jersey, nos Estados Unidos. Porém, passados alguns anos dessa febre toda, começam a pintar evidências de que eliminar pães e bolos sem motivo aparente ou orientação médica não é lá uma boa ideia – pelo contrário, a restrição está vinculada ao maior risco de problemas de saúde sérios.

A primeira prova do revés vem da americana Universidade Harvard. Foram analisadas informações de quase 200 mil indivíduos, acompanhados durante três décadas. Aqueles que consumiam pouco (ou nenhum) glúten por dia apresentavam um maior risco de desenvolver diabetes tipo 2.

Outro artigo, assinado por experts da Universidade Colúmbia, também nos Estados Unidos, não encontrou relação entre a ingestão da proteína e o aumento nas taxas de infarto e AVC. Na contramão, o consumo moderado das fontes de glúten estava ligado a uma menor probabilidade de encarar esses males. “Falamos de alimentos ricos em grãos integrais, que sabidamente conferem proteção cardiovascular”, diz o gastroenterologista e pesquisador Andrew Chan.

Mas de onde viria essa proteção? Ora, trigo, centeio e cevada carregam vitaminas e fibras, estas essenciais para manter o equilíbrio da microbiota, o conjunto de bactérias que vivem em nosso sistema digestivo. “Elas são alimento para esses micro-organismos e impedem a absorção excessiva de gorduras e açúcares”, explica a nutricionista Olga Amancio, presidente da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição.

Assim, a ausência desse tipo de alimento no cardápio bagunçaria a flora intestinal e criaria condições para diabete, colesterol alto e outras encrencas prosperarem. Apesar desses indícios, convém deixar claro que os dois estudos não permitem determinar ainda uma relação de causa e efeito. “Precisamos confirmar esses achados com outras pesquisas”, admite a médica Rosana Radominski, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.

Fonte: www.abril.saude.com.br

 

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